GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

sábado, 27 de outubro de 2018

ONDE CABE O AMOR


ONDE CABE O AMOR
O amor cabe numa tarde
No tempo de despertar de uma sesta
Até ao infinito de um entardecer
Quando de sombra o quarto invade
A nesga de luz por uma fresta
Iluminando a brancura do prazer
Este impulso de sentir
Ténues memórias
De pele e sentidos
A loucura de morrer
De silêncio consentir
Pedaços de histórias
Beijos e gemidos
Desejo e querer
E numa tarde fazer acontecer
Temporal de excitação
Instantes adormecidos
E a dois viver
Uma paixão
Perdidos
...
musa
http://perdidoscomotempo.blogspot.com/?m=1


quarta-feira, 3 de outubro de 2018

OUTUBRO AMANTE

OUTUBRO AMANTE

A mensagem chegou, fria e exausta, como um corpo moído e um espírito vazio, na torturante existência de sentir.
Talvez um adeus há muito esperado, arrastado pela ausência de coragem em não ter dito toda a verdade, e omitido uma vida que não sabia viver.
Ou as palavras o atravessassem lanças de confissão em busca de compreensiva ternura e a esperança do acontecer.
Chegaram num bilhete electrónico, tão verdadeiras quanto leais, - "Não consigo escrever nem uma frase.
Pairo nos dias e sinto-me longe de todos. Sobretudo dos sentimentos.
Vivo e não reflito, não sei se isso é vida, talvez seja.
Penso ao contrário de todos. Sou um dissidente dos dissidentes. Sofro
de um egoísmo materialista e estéril, e tenho a paga correspondente,
nada.
Restam-me os sentidos, por vagas, nem sempre confessáveis.
Sou um solitário e nem sempre sem sofrer. Não tenho amigos, os antigos
afastaram-se, no espaço ou na amizade.
Nem triste consigo estar, eu que achava a tristeza tão bela às vezes.
Admiro os que têm amigos, os que partilham afectos, os que sofrem e
são sensíveis, os que falam e fazem bem com as palavras. Porque eu não
tenho nenhuma dessas artes. Sou sensivel, mas não consigo ser. Preciso
dos outros, mas não consigos tê-los, por falta de jeito, por falta de
altruismo, por falta de palavras, e tantas vezes, oh culpa, por falta
de paciência.
O mundo, que eu acho belo e grandioso, passa lá fora sem que eu
consiga vê-lo. E quando o procuro acho-o quase sempre ruidoso, fecho
as janelas.
Dói-me muitas vezes as cabeça, tomo analgésicos. Trabalho muito, mas
só em tarefas rotineiras porque são fáceis. E depois fico sem tempo,
parece que às vezes não quero ter tempo.
Peço-te desculpa pelo silêncio e por promessas que, não o sendo no
momento, se revelaram falsas. Agradeço-te que continues aí, onde quer
que estejas, e sinto-me um ladrão que se rouba o direito de te
escrever só quando muito bem lhe apetece, para dizer frases que talvez
nem eu entenda, e depois te deixa no silêncio, que é a mais vil e
cruel das respostas. Agradeço tanta generosidade que não mereço. Não
sei se te é aceitável uma vaga esperança de não sei o quê. Compreendo
que não seja.
Seria preferível não ter conseguido escrever nem uma frase?".
O tempo encarregou-se de contrariar todo o argumento do discurso de silêncio esquecido, por momentos houve palavras, olhares, afagos, prazer, abraços, ternura, e o mundo quase paráva, na envolvente penumbra dos secretos encontros das terças-feiras. Entre quatro paredes todo o silêncio fazia sentido, as horas paravam no relógio digital, os dados móveis eram desligados,  as palavras eram mínimas, justificavam a saudade com beijos.
Um dia perguntou-lhe porque estava ali.
Atreveu-se adivinhar paixão, amor, amizade, ou somente o gozo de sentir.
Lembrou-lhe um outro bilhete sem data, que guardou no fundo da alma às escuras, para um dia o ver brilhar dentro dos seus olhos de amante. Foi tão profundo que soube bem esperar, - " Quero abraçar-te e conhecer o tamanho do nosso desejo.
Quero que o tempo que passou não conte e quero conseguir que o tempo
páre em nós o tempo de amar-nos sem idade nem destino, quero
encontrar-te no profundo de nós mesmo, sem tempo e sem medida.
Não me importo da espera quando sei que o porto é certo, permito-me
mesmo fruir a antecipação do fruir, esse é tão breve quanto esta tem
sido longa.
Quero ter-te e que me tenhas, e o tempo não contará, só a intensidade
do presente.
Quero beijar-te os lábios que apenas aflorei, que nesse apenas já
senti a doçura do desejo."
Era gratidão a mais, e o ténue fio da memória haveria de quebrar quando o cansaço da rotina tomasse conta do lugar, porque tudo tem um fim.
Era só um desejo torpe, sem grande significado, sem muitos Outubros a repetir, ou a lembrança a guardar da secreta vontade feita acontecer.
Outubro tinha o sabor mágico da espera, carregado de silêncio cumprido, a promessa feita sem cobranças, com segredo digital, sem vestígios de culpa, sem validade, ainda hoje espera com a verdadeira identidade, as palavras que não são minhas, -"Quero-te em Outubro. Uma tarde só nossa. Para libertar toda a
sensualidade, mais do que em palavras, em toques, no contacto das nossas
peles macias, até à profundidade dos nossos corpos, toda a exaustão, sem pensar em mais
nada que sorver-nos com sofreguidão consentida e grata. Quero-te uma
tarde, na intimidade de um quarto, só nós dois, sem barreiras, só
dando e recebendo como quem recebe dando. Quero o teu corpo, a certeza
dos nossos corpos. Beijar-te, abraçar-te, percorrer-te a pele,
partilhar o prazer dentro de ti. Beijar-te e beijar-te e beijar-te...".
Outubro tem o mel do desassossego que persiste, do silêncio espiritual que comunica além de todo entendimento, ao cair da folha traz consigo a certeza de que é só uma estação a renovar a promessa de vida, a antecipar o adormecimento das memórias, o fortuito encontro de tantas terças-feiras a morrer pela tarde a lei inevitável da atração entre dois seres.
Ainda podem achar que a palavra certa para este silêncio de sentidos, seja amantes, ou Outubro tenha conhecido uma palavra nova, consentida de paixão silenciada.
...
musa
https://youtu.be/gSYhCbLS4Ik

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

AMO-TE EM SILÊNCIO

falam por aí do amor...

AMO TE EM SILÊNCIO

Os ventos e os silêncios
E as folhas caídas neste tempo outonal
E os versos sem rima
E esta memória tão carnal
E as árvores já despidas
A brisa a obra-prima
Das sombras esculpidas
Silente utopia
A ventania que esgrima
Silêncio em poesia
Amor em melancolia
E as memórias quase esquecidas
A paixão gutural
Pelo outono agonia
As lágrimas perdidas
No temporal
Euforia
...
musa

https://youtu.be/1OA3eggfpkA

AO JC

ao JC

Os olhos humedecidos
Pela neblina memória
Têm nos versos sentidos
A mais doce história
A névoa mansa da tarde
O mais doido entardecer
O fogo da paixão que arde
Em gozo na cama de prazer
O poema que tortura
Na penumbra dos gemidos
Em murmúrios de ternura
Tão entregues e tão rendidos
Ao amor e à doçura
Na cumplicidade do leito
Ainda a ofegar no peito
A lembrança da loucura
E mesmo que distantes
Eternamente amantes
Em discreto pensamento
A recordação perdura
No tempo

https://youtu.be/o1DDCTlVYNM
...
musa