GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

quarta-feira, 29 de julho de 2015

IMAGINAS

IMAGINAS
O poema solto na pradaria do teu desassossego
Quando teus olhos penetram a medo
Vale encantado de um desejo
E era um beijo

Um beijo no limite da imaginação
Em provocante e doce excitação
Na flor dos seios do decote
Imaginada sedução

Seguem os teus dedos o recorte
Um cubo de gelo a derreter
A pele molhada a estremecer
Endoidecido prazer
Imaginas

Outro tanto que possa acontecer
O corpo e os sentidos que dominas
E fazes tudo querer

Seios imaginados em vale encantado
Cavalo louco a correr na pradaria
Do teu olhar enfeitiçado
Onde eu sei que me perderia
...

musa

domingo, 26 de julho de 2015

QUASE AMOR

No silêncio escuro da penumbra no espelho
Quase amor num sessenta e nove em delito
Rasga boca cumplicidade gozo em vermelho
Sussurros e gemidos até ao supremo grito

Na húmida língua provocando trémulo prazer
Suga beija em suavidade espasmos delirantes
Orgasmos múltiplos em afagos de endoidecer
A pele arde entre as mãos suadas e ofegantes

Sessenta e nove quase tudo dádiva amor carnal
A mais intensa entrega submissa dos amantes
Denso brilho de excitação provocante e sensual

A pose altar e prece chama acesa fogueira do olhar
Corpos extenuados em orgia de deuses insinuantes
Sessenta e nove orações para amar adorar e rezar
musa

sábado, 4 de julho de 2015

AMANTE

O AMANTE
Desde que estás casado, quantas vezes já traíste a tua mulher?
Sem o olhar, continuava a sentir o abraço apertado e a força do embaraço, diante da intimidade da pergunta, sabendo que ao responder, estaria a fazer a única confissão de traição que mais lhe custaria.
Quase a sussurrar, deixou escapar um sorriso de olhos bem escancarados, e gritou-lhe no silêncio da alma a profundidade do gozo das trezentas e trinta e duas mulheres que já tinham partilhado o prazer com ele. Afiançando-lhe a responsabilidade daquele trio numérico que lhe amordaçava a alma, em desassossego de virtude, era mais um número naquela sua agenda que só chegaria ao fim lá pelas trezentas e sessenta e cinco. Iria também ela ser traída por trinta e duas mulheres e meia.
A matemática nunca foi o seu forte.
Não se sentia uma traidora.
Chegava a cada encontro como se fosse o primeiro. Tímida, evasiva, trémula, amedrontada, tempestiva.
Ás vezes pesava-lhe a consciência com a dúbia sensação de pecado e falta, mas um lampejo de razão e rebeldia alumiava-lhe a ilusão de que o certo era ter o corpo amado e fodido, em vez de sentir a frustração e a carência das horas vividas tristes e solitárias.
Ainda que fosse somente um número na agenda do predador de sexo fácil, sentia-se a preferida, e o facto de ser repetidamente, procurada e chamada, a assumir funções na sua língua e dedos, dava-lhe confiança e alento para ceder ao pudor do sim, em negação, como que abrindo caminho a uma maior intimidade da sedução e cumplicidade que se fortalecia de encontros discretos em lençóis encharcados de fluidos de libertação e amor.
Porque ás vezes chegava a ser amor o que descarregava no seu corpo de beijos e abraços.
Amante ou amada cumpria a função de acreditar que essa partilha de sexo, deixando-lhe o corpo e a alma satisfeitos, era o elixir da juventude e a chama da sanidade mantida acesa avivando todos os sentidos numa consciência sadia da vida.
A puta da vida que se fazia de tão difícil nos últimos tempos com tanta crise, tanto desânimo, tanto desacato, tanto desalento, tornava-se um mar de rosas com o peso de um corpo por cima dela roçando-lhe as entranhas de húmido prazer.
Fazendo a sentir mulher a cada orgasmo, arrancado bem lá do fundo, e esquecidos todos os problemas da vida, nunca foder soube tão bem apesar do caos vivencial do espírito atribulado com que afundava naquele leito tomado de raízes pelo vazio com que ficava depois de tudo ceder ao eco da voz ordenando-lhe ir-se embora porque tarde se fazia e havia em casa alguém à espera.
Vir-se magistralmente em triunfo e glória. Outros orgasmos teriam que esperar.
O corpo quase saciado, esgotado, num cansaço doce, resistia a uma saudade que lhe ficava entranhada na pele cheirando a suor saliva e sêmen e como uma tela de arranhões marcas vermelhões, guardava o odor e sabor da íntima entrega com a promessa sem data marcada de renovação do gozo sexual e da dádiva afectiva de como os amantes vivem os pequenos instantes permitidos às escondidas da vida.
Assim que se começava a vestir logo esquecia esses momentos vividos na cama e debaixo da água a escorrer morna, no chuveiro, amansando- lhes os corpos sedentos de sexo.
A boca dele bebendo-a e saboreando-a e mordendo-a com uma fome insaciável desflorando-a de orgasmos loucos infindáveis.
Um amante consegue tanto em tão pouco tempo.
O que resta triunfal eloquente dócil, sem culpa ou compromisso, deixa a porta aberta a um mundo feito da fantasia, no sentir de uma realidade carnal e a efémera sensação de que o que é bom é para se viver.
...

musa"