GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

terça-feira, 13 de outubro de 2020

SEM ALMA

 SEM ALMA 


... sem alma

12Outubro2020


Tão fundo o negro anoitecido

Corvo silencioso a esperar

Adentro tão profundo e perdido

Na escuridão o olhar humedecido

Desilusão e sentido 

E o silêncio a calar


Náufrago voo sem alma dividido 

Teimosamente inocente

Noctívago voo adormecido

Se acalma docemente 

Nas mãos estendidas


Todas as esperas nunca prometidas

Todas as sílabas por contar

Todas as palavras esquecidas

E os versos sem rimar 

O poema da vida

Se calhar

...

musa 


DESISTIR 


Desistir de esperar

As negras noites sem queixume

Deste sentir aceso lume

Sufocante respirar

Desistir da eternidade 

Paixão dos versos no infinito

Palavras anoitecidas doido grito

De espera enraivecida na saudade

Desistir do sentimento 

Divagar no escuro da imaginação 

A noite a encobrir o lamento 

No silêncio triste da íntima solidão 

...

musa


PROFUNDIDADE 


Aceito do silêncio 

Como moeda de troca a noite

A vingar lágrimas escondidas

De tristeza encerrada no meu peito


Aceito a profundidade tempo

Profunda intimidade como açoite 

Do pranto a curar as feridas

Na leveza macerada do sonho desfeito


Aceito da distância a desiludida

Promessa de nunca estar

Longe do coração e do olhar

E talvez um dia perdoe a vida

...

musa 


DESESPERO 


São de raiva e loucura mansa as águas 

Lambendo degrau a degrau a manhã 

O frio húmido a atravessar a pele da lã

Na envolvente partitura silenciosa das mágoas 


A bater e a rachar vagas de desespero 

Nas escadas com vontade de descer

A alma perdida tão vazia de sofrer

Mutilada a pedra de espuma destempero 


E todas as madrugadas o mesmo ritual

Desesperante o gume rasgo e dilacerante 

O mar cravado na pedra afiado punhal

Desespero do beijo adiado e distante

... 

musa


CANSAÇO 


Amargo o ausente imaginado abraço 

Que se dilui no tempo de memórias 

Esquecidas das sombras no cansaço 

As palavras repetidas em tantas histórias 


De amores por vezes não correspondidos 

E paixões de vivo e repetente sofrer

Das dores dos tormentos e dos sentidos 

Repartidos de saudades e de secreto prazer


Do que resta da canseira do corpo extenuado 

Agora entregue à desesperada resignação 

A íntima maneira do sofrimento calado

Viver amordaçado pelo vício da solidão 

...

musa 


LANGUIDEZ


É tarde o fim outonal

Demorado nas folhas amarelecidas

A lenha que já arde

Aquietado o vendaval

Vacilante no toque às árvores despidas

Ronrona de silêncio sem alarde

No crepitar das roupas pelo chão caídas 


As sílabas adormecidas

Folhagem sem capítulos 

Cada página virada

A tarde sem títulos 

As sombras esquecidas

No chão o entardecer 


Na languidez o estremecer 

A mansa brisa pela mão 

No orvalho do olhar

Nos lábios o tempo e a ilusão 

A pele a entristecer

De esperar

...

musa


INCERTO INCÊNDIO 


Há na paisagem 

O arvoredo

Triste 


Algo que resiste 

Ao medo 


A imagem

De um abraço 

Um certo incêndio 

Incerto


O que resta de carvão e aço 

Da madeira ardida

A erva da vida

O íntimo pedaço 

Por arder


Braços estendidos e abertos

Na envolvente neblina 

A dor meiga e fina

Restolhos incertos

Por colher

...

musa


ESPERAS E ESPORAS


Nos restos carbonizados 

O fantasma a ressurgir

Das chamas os cravos

Traços de humanidade

Lanças a ferir

Esperas e esporas

Ferrugem

Da vida 


Os pregos metalizados

No fogo da virgindade

Entre as cinzas e o pó da ferida

A poeira suavidade

De todas as demoras

Resquícios de honradez

A equina luz do galope

Declínio das horas

Gritam rugem

Na palidez

Do tempo

...

musa 



NA GAVINHA DA ALMA 


Serpenteia irregular

Em busca de galhos invisíveis 

No enrolamento circular

As gavinhas divisíveis 

Bifurcam olhar


Dos dias o tempo

A desmoronar 

Soma da alma

No infinito


O desalento

Desiludida

Desarmada


O rumo bendito

A seguir sem olhar para trás

A gavinha encaminhada

No sentir fugaz 


Quem sabe encontre a paz

...

musa 


DEVOLVER TE IA


Devolver te ia a alma

Num sopro de silêncio 

Apaziguando teu queixume 

Como quem enfrenta o lume

Do fogo e do incenso 

E se acalma de poesia 


Devolver te ia

No sossego a exaustão 

Dos versos que queimam

De desilusão 


Devolver te ia a melancolia 

Das ausências e das distâncias 

Das horas de tristeza e do luto

As sombras e as estâncias

O infinito absoluto

Da sensível harmonia 

E as palavras por dizer

Que nunca soube escrever

...

musa


A FLOR MALICIOSA 


Na bordadura do ribeiro 

Lodos lamas delírios 

Sob a alma do salgueiro

Tombam pétalas dos lírios 

À flor da água silenciosa

A sombra no umbral recato 

Da luz humedecida e maliciosa

Como lágrimas do regato

Na bucólica paisagem

Em solitária viagem 


Abraça em florescidos agriões 

Margens húmidas e macias

Em súplicas e orações 

Ao altar da foz

Tão perto 


Certa a chegada ao colo secreto

No murmurar gentil da voz

A invocar 


É logo ali o mar

...

musa


TÍMIDA A LUZ 


Enormidade

Do vazio areal

Mede forças com o olhar

Na sua intimidade 


Dúvida emocional 

Salinidade

Cada areia a magoar

Intencional 

Saudade


Depois toda a luz

Dimensional 

Timidamente 

Opacidade

Do mar


Em filamentos

Diagonais

A serpentear

Sobre o areal comprido

Pensamentos 

Existenciais

O dúbio sentido

A ilusão 


Vasto chão 

De vagas a molhar

Tão tímido na nudez

Das ausências 

A profunda solidão 

Das sereias

Transparências

Timidez

Das areias 

...

musa


NO TÚNEL DO TEMPO 


Para trás fica a agonia

Em diluída tristeza

Adormecida 


Na alma a sinfonia

Dos adeus

A saber que ao fundo do túnel 

Há o azul dos céus 

No mar diluído 

Da vida 


A imensidão do sentido

Como que a esperar

Mais uma vaga por acontecer

E o tempo perdido

A divagar

Sem saber


Se algum dia vais voltar

Se ainda há o querer

Se sabes o poema


Até lá espero 

No desespero

Serena

...

musa 



sexta-feira, 2 de outubro de 2020

PERDOA

PERDOA


Quero que o mundo saiba e guarde silêncio

Do ilícito amor que senti

Tão profundo e delicado de tempo

Amor implícito sossego que perdi

A saber que esqueça desse sentimento 

Que de palavras versos feri


O poema de tímido devaneio

Em estrofe de sofrimento

O desassossego e o anseio

De não ser correspondido em pensamento 

E a cada palavra a loucura

Do fogo dividido

Em doses de sentido e ternura

Por vezes confundido

Desventura


Talvez nunca o vou saber

Se amor houve por instantes

Nessas horas de secreto prazer

Tão poucas e tão divinais

Como é sempre o enlace dos amantes

Quando em imenso querer

Se entregam impulsivos e carnais


Perdoa perguntar

O que tantas vezes disse o teu olhar

...

musa

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Petit poeme de ma vie

Petit poeme de ma vie 


“Ouvimos música

comemos torradas

Pomos a luz a semi-luz

Vimos por aqui a fora

agora com uma caneta nos dedos só o que é bonito não cansa 

ouve-se o tilintar das campainhas entre a música 

continua a chuva seca

muda o mês de setembro para outubro — veja se a data

em breve será um número no passado

uma nostalgia ou, mais certo, algo esquecido

novos números virão 

O outono vai trazer o frio, talvez

ah, essa falsa incerteza que não me mata!

Ao contrário da verdadeira

que desata a doer sem se ver

como o fogo do amor do poeta continua a vida como um filme da nouvelle vague

onde só falta o sol de S. Tropez

e mesmo o de S. Torpes

onde não vivi daquela, nem de nenhuma, vez

ao menos li no chão o teu poema, Alberto, em Sines

e li a vida pura em muitas coisas simples

no pecaminoso prazer de esquecida dor.


Comeu a divisão dos versos/parágrafos


No pecaminoso prazer de esquecer a dor

JC”


Nostalgia ou a poesia

Das coisas íntimas e sensíveis 

Petit poeme de ma vie 

Le seul envie

A doce melancolia 

Os versos possíveis 

... e a vida continua...

Com todas as mortes à cabeceira 

Insípida sem sabor

E todas as ausências demoradas

E o chão perdido

Onde já nada faz sentido

O tempo é rasteira

Angústia ilusão torpor

Esperanças vãs e vagas 

Um sonho perdido

Um delito acontecido

Um verso adormecido 

Somente em palavras

A pele dorida e nua

No prazer luminoso

Quiçá pecaminoso

Versos sentimentais 

Da vida crua


Ou a sombra esquecida

Para uma qualquer Primavera 


Do que foi um sonho de amor


E não é mais...


Ah... a música era 


https://youtu.be/5gr2IuNqlHI


...

musa