SEM ALMA
... sem alma
12Outubro2020
Tão fundo o negro anoitecido
Corvo silencioso a esperar
Adentro tão profundo e perdido
Na escuridão o olhar humedecido
Desilusão e sentido
E o silêncio a calar
Náufrago voo sem alma dividido
Teimosamente inocente
Noctívago voo adormecido
Se acalma docemente
Nas mãos estendidas
Todas as esperas nunca prometidas
Todas as sílabas por contar
Todas as palavras esquecidas
E os versos sem rimar
O poema da vida
Se calhar
...
musa
DESISTIR
Desistir de esperar
As negras noites sem queixume
Deste sentir aceso lume
Sufocante respirar
Desistir da eternidade
Paixão dos versos no infinito
Palavras anoitecidas doido grito
De espera enraivecida na saudade
Desistir do sentimento
Divagar no escuro da imaginação
A noite a encobrir o lamento
No silêncio triste da íntima solidão
...
musa
PROFUNDIDADE
Aceito do silêncio
Como moeda de troca a noite
A vingar lágrimas escondidas
De tristeza encerrada no meu peito
Aceito a profundidade tempo
Profunda intimidade como açoite
Do pranto a curar as feridas
Na leveza macerada do sonho desfeito
Aceito da distância a desiludida
Promessa de nunca estar
Longe do coração e do olhar
E talvez um dia perdoe a vida
...
musa
DESESPERO
São de raiva e loucura mansa as águas
Lambendo degrau a degrau a manhã
O frio húmido a atravessar a pele da lã
Na envolvente partitura silenciosa das mágoas
A bater e a rachar vagas de desespero
Nas escadas com vontade de descer
A alma perdida tão vazia de sofrer
Mutilada a pedra de espuma destempero
E todas as madrugadas o mesmo ritual
Desesperante o gume rasgo e dilacerante
O mar cravado na pedra afiado punhal
Desespero do beijo adiado e distante
...
musa
CANSAÇO
Amargo o ausente imaginado abraço
Que se dilui no tempo de memórias
Esquecidas das sombras no cansaço
As palavras repetidas em tantas histórias
De amores por vezes não correspondidos
E paixões de vivo e repetente sofrer
Das dores dos tormentos e dos sentidos
Repartidos de saudades e de secreto prazer
Do que resta da canseira do corpo extenuado
Agora entregue à desesperada resignação
A íntima maneira do sofrimento calado
Viver amordaçado pelo vício da solidão
...
musa
LANGUIDEZ
É tarde o fim outonal
Demorado nas folhas amarelecidas
A lenha que já arde
Aquietado o vendaval
Vacilante no toque às árvores despidas
Ronrona de silêncio sem alarde
No crepitar das roupas pelo chão caídas
As sílabas adormecidas
Folhagem sem capítulos
Cada página virada
A tarde sem títulos
As sombras esquecidas
No chão o entardecer
Na languidez o estremecer
A mansa brisa pela mão
No orvalho do olhar
Nos lábios o tempo e a ilusão
A pele a entristecer
De esperar
...
musa
INCERTO INCÊNDIO
Há na paisagem
O arvoredo
Triste
Algo que resiste
Ao medo
A imagem
De um abraço
Um certo incêndio
Incerto
O que resta de carvão e aço
Da madeira ardida
A erva da vida
O íntimo pedaço
Por arder
Braços estendidos e abertos
Na envolvente neblina
A dor meiga e fina
Restolhos incertos
Por colher
...
musa
ESPERAS E ESPORAS
Nos restos carbonizados
O fantasma a ressurgir
Das chamas os cravos
Traços de humanidade
Lanças a ferir
Esperas e esporas
Ferrugem
Da vida
Os pregos metalizados
No fogo da virgindade
Entre as cinzas e o pó da ferida
A poeira suavidade
De todas as demoras
Resquícios de honradez
A equina luz do galope
Declínio das horas
Gritam rugem
Na palidez
Do tempo
...
musa
NA GAVINHA DA ALMA
Serpenteia irregular
Em busca de galhos invisíveis
No enrolamento circular
As gavinhas divisíveis
Bifurcam olhar
Dos dias o tempo
A desmoronar
Soma da alma
No infinito
O desalento
Desiludida
Desarmada
O rumo bendito
A seguir sem olhar para trás
A gavinha encaminhada
No sentir fugaz
Quem sabe encontre a paz
...
musa
DEVOLVER TE IA
Devolver te ia a alma
Num sopro de silêncio
Apaziguando teu queixume
Como quem enfrenta o lume
Do fogo e do incenso
E se acalma de poesia
Devolver te ia
No sossego a exaustão
Dos versos que queimam
De desilusão
Devolver te ia a melancolia
Das ausências e das distâncias
Das horas de tristeza e do luto
As sombras e as estâncias
O infinito absoluto
Da sensível harmonia
E as palavras por dizer
Que nunca soube escrever
...
musa
A FLOR MALICIOSA
Na bordadura do ribeiro
Lodos lamas delírios
Sob a alma do salgueiro
Tombam pétalas dos lírios
À flor da água silenciosa
A sombra no umbral recato
Da luz humedecida e maliciosa
Como lágrimas do regato
Na bucólica paisagem
Em solitária viagem
Abraça em florescidos agriões
Margens húmidas e macias
Em súplicas e orações
Ao altar da foz
Tão perto
Certa a chegada ao colo secreto
No murmurar gentil da voz
A invocar
É logo ali o mar
...
musa
TÍMIDA A LUZ
Enormidade
Do vazio areal
Mede forças com o olhar
Na sua intimidade
Dúvida emocional
Salinidade
Cada areia a magoar
Intencional
Saudade
Depois toda a luz
Dimensional
Timidamente
Opacidade
Do mar
Em filamentos
Diagonais
A serpentear
Sobre o areal comprido
Pensamentos
Existenciais
O dúbio sentido
A ilusão
Vasto chão
De vagas a molhar
Tão tímido na nudez
Das ausências
A profunda solidão
Das sereias
Transparências
Timidez
Das areias
...
musa
NO TÚNEL DO TEMPO
Para trás fica a agonia
Em diluída tristeza
Adormecida
Na alma a sinfonia
Dos adeus
A saber que ao fundo do túnel
Há o azul dos céus
No mar diluído
Da vida
A imensidão do sentido
Como que a esperar
Mais uma vaga por acontecer
E o tempo perdido
A divagar
Sem saber
Se algum dia vais voltar
Se ainda há o querer
Se sabes o poema
Até lá espero
No desespero
Serena
...
musa
3 comentários:
Minha querida Musa,
dizia o poeta que "tudo vale a pena, quando a alma não é pequena".
Um beijo
No rio da tua alma lavo poemas
Lavo versos quando choro
Choro e grito meus dilemas
Rezo terços que namoro
Nas águas do teu sentir
E se a chorar ou a rir
No pranto versejado
No teu olhar marejado
Versos rio a existir
De lágrimas margens da vida
Rio poema alma inspiração
Choro imenso voz sentida
De profunda solidão
De sentido enamorado
Versos escrito à mão
Na alma choro magoado
Leito de dor desilusão
Caudal dum verso pecado
A correr no coração ... um beijos
Tanto desespero.
Tanto enlevo pela dor.
A escrita assim desgastas-nos.
Apesar de fazer subir indices bons no nosso corpo.
Gostei de ver e ler
:-)
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