O AMANTE
Desde que
estás casado, quantas vezes já traíste a tua mulher?
Sem o
olhar, continuava a sentir o abraço apertado e a força do embaraço, diante da
intimidade da pergunta, sabendo que ao responder, estaria a fazer a única confissão
de traição que mais lhe custaria.
Quase a
sussurrar, deixou escapar um sorriso de olhos bem escancarados, e gritou-lhe no
silêncio da alma a profundidade do gozo das trezentas e trinta e duas mulheres
que já tinham partilhado o prazer com ele. Afiançando-lhe a responsabilidade
daquele trio numérico que lhe amordaçava a alma, em desassossego de virtude,
era mais um número naquela sua agenda que só chegaria ao fim lá pelas trezentas
e sessenta e cinco. Iria também ela ser traída por trinta e duas mulheres e
meia.
A
matemática nunca foi o seu forte.
Não se
sentia uma traidora.
Chegava a
cada encontro como se fosse o primeiro. Tímida, evasiva, trémula, amedrontada,
tempestiva.
Ás vezes
pesava-lhe a consciência com a dúbia sensação de pecado e falta, mas um lampejo
de razão e rebeldia alumiava-lhe a ilusão de que o certo era ter o corpo amado
e fodido, em vez de sentir a frustração e a carência das horas vividas tristes
e solitárias.
Ainda que
fosse somente um número na agenda do predador de sexo fácil, sentia-se a
preferida, e o facto de ser repetidamente, procurada e chamada, a assumir
funções na sua língua e dedos, dava-lhe confiança e alento para ceder ao pudor
do sim, em negação, como que abrindo caminho a uma maior intimidade da sedução
e cumplicidade que se fortalecia de encontros discretos em lençóis encharcados
de fluidos de libertação e amor.
Porque ás
vezes chegava a ser amor o que descarregava no seu corpo de beijos e abraços.
Amante ou
amada cumpria a função de acreditar que essa partilha de sexo, deixando-lhe o
corpo e a alma satisfeitos, era o elixir da juventude e a chama da sanidade
mantida acesa avivando todos os sentidos numa consciência sadia da vida.
A puta da
vida que se fazia de tão difícil nos últimos tempos com tanta crise, tanto desânimo,
tanto desacato, tanto desalento, tornava-se um mar de rosas com o peso de um
corpo por cima dela roçando-lhe as entranhas de húmido prazer.
Fazendo a
sentir mulher a cada orgasmo, arrancado bem lá do fundo, e esquecidos todos os
problemas da vida, nunca foder soube tão bem apesar do caos vivencial do espírito atribulado com que afundava naquele leito tomado de raízes pelo vazio
com que ficava depois de tudo ceder ao eco da voz ordenando-lhe ir-se embora
porque tarde se fazia e havia em casa alguém à espera.
Vir-se
magistralmente em triunfo e glória. Outros orgasmos teriam que esperar.
O corpo
quase saciado, esgotado, num cansaço doce, resistia a uma saudade que lhe
ficava entranhada na pele cheirando a suor saliva e sêmen e como uma tela de
arranhões marcas vermelhões, guardava o odor e sabor da íntima entrega com a
promessa sem data marcada de renovação do gozo sexual e da dádiva afectiva de
como os amantes vivem os pequenos instantes permitidos às escondidas da vida.
Assim que
se começava a vestir logo esquecia esses momentos vividos na cama e debaixo da água
a escorrer morna, no chuveiro, amansando- lhes os corpos sedentos de sexo.
A boca
dele bebendo-a e saboreando-a e mordendo-a com uma fome insaciável desflorando-a
de orgasmos loucos infindáveis.
Um amante
consegue tanto em tão pouco tempo.
O que
resta triunfal eloquente dócil, sem culpa ou compromisso, deixa a porta aberta
a um mundo feito da fantasia, no sentir de uma realidade carnal e a efémera
sensação de que o que é bom é para se viver.
...
musa"
3 comentários:
Parabéns com os cumprimentos da www.sexshop-portugal.pt
Grata em poesia
Sedução e mistério...
AGRADEÇO A DIVULGAÇÃO DO BLOG <3 em breve disponível em livro
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