GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

SEM RASURAS - DIÁRIO A UM AMOR DESCONHECIDO

São as tuas palavras que despertam adormecendo a metade que sou de ti...

 

 

 

Envelhecemos

 

Não tenho outra forma de o dizer

 

As rugas das sílabas são verbos

 

A pele das palavras cicatrizes

 

Fenecemos

 

Como as rosas a florescer

 

De ensombradas raízes

 

E os espinhos são como nervos

 

Do sensível prazer

 

Directrizes

 

Que dita o tempo

 

E o viver

 

 

 

É este amor descontentamento

 

Desconcerto

 

De versos por escrever

 

Em silenciamento

 

Incerto

 

Solidão

 

 

 

Que dito em folhas caídas

 

Tão perto

 

O Outono da paixão

 

Desperto

 

Breve encontro outonal

 

A lembrar carícias adormecidas

 

De amor tão carnal

 

E pergunto sem querer

 

Às tuas mãos esquecidas

 

 

 

Saberás entender

 

 

 

Do corpo a sabedoria

 

Sílabas ao entardecer

 

Que tão tarde amanhece

 

E adentro desfalece

 

Tão só poesia

 

 

 

Ou as rugas da vida

 

Em agonia

 

Resignação

 

Palavra folha perdida

 

Em solitário coração

 

...

 

 

 

Li poemas e outros textos

 

Tudo escrito à mão

 

A coberto da noite

 

Quando Setembro

 

Era promessa

 

De poesia

 

 

 

E sem rasuras

 

Escrevi

 

O silêncio

 

Que a noite pesa

 

Sobre a escuridão

 

 

 

Senti

 

O peso do tempo perdido

 

A sofreguidão

 

Como num diário

 

A um amor desconhecido

 

Descrevi

 

O desalento e a solidão

 

A esvair-se memória

 

Da íntima pele

 

Sonâmbula maré

 

Sem chão

 

 

 

Mar de sombras no olhar

 

Penumbra de fé

 

Sem ter onde naufragar

 

A sua história

 

De mel e de fel

 

 

 

Noctívaga sombra de papel

 

E na penumbra escrever

 

 

 

O que é

 

Morrer de prazer

 

...

 

 

 

Tão só

 

Milionária solitude

 

Atravessando países

 

O sol e o pó

 

Dos tempos

 

 

 

Dos alegres e dos infelizes

 

Na sua ingénua magnitude

 

Do caos e dos desalentos

 

 

 

Bolsos cheios de ternura

 

Ombros pesados de saudade

 

Cansados da loucura

 

E da infelicidade

 

 

 

Do medo inventado

 

Submissa amargura

 

Inventário de vírus e ilusão

 

Do sonho infectado

 

De morte e solidão

 

 

 

Do cais de pedras e pranto

 

E da terra revolvida

 

De vulcões despertados

 

De perdas e desencanto

 

Da estranha vida

 

E os cordões desapertados

 

Arrastando no caminho

 

Invencível destino

 

 

 

Os sapatos perdidos

 

Em dias adormecidos

 

 

 

E o amor por cumprir

 

Sem nunca desistir

 

...

 

 

 

Salva a noite da desistência

 

Sopro das palavras ao ouvido

 

Sensível a existência

 

Sonho esquecido

 

 

 

Que de ousado despertar

 

Cumpre a pena insónia

 

A doce amónia

 

A inebriar

 

 

 

O descanso perdido

 

Da dor inspiração

 

A insuportável condição

 

De fazer sentido

 

Escrever

 

 

 

Enquanto a alma doer

 

E o mundo fervilhar

 

Nas veias latejar

 

O medo formigamento

 

O íntimo lamento

 

A gotejar

 

 

 

Tinta em forma de palavras

 

Prece ou poema

 

O doce cortejar

 

Da poesia

 

 

 

Míseras mágoas

 

A serena

 

Agonia

 

Da vida

 

...

 

 

 

Esse concluiu estranho

 

Inebriante

 

Silêncio espesso escuro

 

Do negro ao castanho

 

Afiado e cortante

 

Pesado e duro

 

Húmido ensanguentado

 

Peçonhento

 

Entranhado

 

Por dentro

 

 

 

Na sua feroz tenacidade

 

 

 

De nudez invisível

 

A inviolabilidade

 

Do pensar

 

Indivisível

 

Multiplicar

 

Da emoção

 

 

 

Que em segredo

 

Se faz medo

 

No coração

 

...

 

 

 

Abrindo dos poros latitude

 

Da geografia dos anjos

 

Cartografadas as asas

 

 

 

As horas pesadas

 

De noturna leveza

 

E longitude

 

 

 

O suave rumor

 

E a delicadeza

 

Do voo

 

 

 

Inflorescência leveza

 

Do cardo amor

 

Completude

 

Do sentir

 

...

 

 

 

Sacramental virtude

 

Íntimo peregrinar

 

Do magma acendido

 

Fogo a expelir

 

A flor

 

 

 

Rubra incandescência

 

Acesa a cor

 

Como a ferir

 

Luminescência

 

Ilusória

 

 

 

Do alto da montanha

 

A fazer história

 

 

 

Qual teia de aranha

 

A enredar memória

 

...

 

 

 

Nas mãos engelhadas

 

O afago do tempo

 

Cântico glória

 

Tamisando de seda o despudor

 

Cabelo branco em mechas ardidas

 

Acinzentadas

 

Qual sentimento

 

Perdendo a cor

 

Brilho e prata

 

Das asas cortadas

 

O olhar que desata

 

Em cordelinhos

 

Inquestionáveis caminhos

 

Da terna idade

 

A ser

 

Desmerecer

 

A eternidade

 

Ao morrer

 

...

 

 

 

Todo um tempo a suspirar

 

Os frágeis instantes

 

De corpos fundidos

 

A gemer e a arfar

 

As lembranças distantes

 

De ambos perdidos

 

Na pequena morte prazer

 

De gozo os sentidos

 

E louco o querer

 

Que restou

 

...

 

 

 

O que o tempo deixou

 

Vontade amadurecida

 

O suspiro o gemido

 

O querer adormecido

 

Que esquecer não levou

 

Do restante da vida

 

...

 

 

 

A espera que marcou

 

Rumo ao sentir

 

Cicatrizando a ferida

 

Remendando a cerzir

 

A dor adormecida

 

 

 

O fundo da saudade

 

O beco sem saída

 

A profundidade

 

Medida

 

 

 

Em dias de espera

 

De silêncio empedernido

 

Angústia ardente e severa

 

E o orgulho ferido

 

Do abandono incompreensível

 

O silêncio invisível

 

Desalento insensível

 

A demora

 

O regresso imprevisível

 

O agora

 

 

 

Sem nada cobrar

 

Do viver a esperar

 

...

 

 

 

E cada vez mais sós

 

...

 

 

 

VERSO VOO VOZ

 

 

 

Este poço de inquietação onde caindo

 

Adormeço estremecido de loucura

 

No fosso da razão se vai abrindo

 

A terra como mortalha de tortura

 

 

 

Trinando desvalido fado menor

 

Que desvairado luto se avizinha

 

O triste cântico combalido do amor

 

O desgraçado que chora a sua sina

 

 

 

Em quadras de versos desalinhados

 

Que a rima destoa a dor trinada

 

Reversos de inquietações e tristes fados

 

Ao som da viola e da guitarra

 

 

 

Queira Deus que a voz nunca lhe doa

 

E o fado em súplica a gemer

 

Aos céus solta a ave que assim voa

 

 

 

Como a prece a inquietude do olhar

 

Gemida a alma a estremecer

 

Faz do verso a voz a esvoaçar

 

...

 

 

 

Amando

 

...

 

 

 

QUANDO?

 

 

 

Podemos... tu queres?

 

 

 

Nunca deixei de querer...

 

 

 

Querendo ao silêncio a solenidade

 

Que invoca súbito o prazer

 

Em memória a intimidade

 

Fazendo acontecer

 

A doida vontade

 

O louco tesão

 

Nunca deixando

 

 

 

Corpo

 

Alma

 

O Ser

 

 

 

Outro caminho buscando

 

A mais secreta fantasia

 

Podendo ou não

 

 

 

Quando?

 

 

 

Fazendo poesia

 

Em excitação escrever

 

Ou pintar da húmida paleta

 

O que a mão sonha em desejo

 

A loucura secreta

 

Dócil sombra do último beijo

 

Corpos a endoidecer

 

Ou o entregue olhar

 

Como quem se arrepia

 

E tudo pode desculpar

 

A dor que inebria

 

 

 

Poder e querer

 

 

 

Dois corpos em desprazer

 

 

 

...

 

 

 

Reencontrados

 

Num lívido Outono ferido

 

 

 

A coberto de um rumor

 

A terra latejando

 

O vento soprando

 

De cinzas e dor

 

 

 

Desfasados no tempo e na vida

 

Sem qualquer sentido

 

O ilusório sabor

 

Da acidez ferida

 

A jorrar

 

 

 

Melancólica poesia

 

 

 

Das estações a rimar

 

A instabilidade temporal

 

O vendaval melodia

 

A soletrar

 

 

 

Pingos enevoados de chuva

 

Dos céus acinzentados

 

Onde acontece

 

O Outono

 

...

 

musa

 

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