São
as tuas palavras que despertam adormecendo a metade que sou de ti...
Envelhecemos
Não
tenho outra forma de o dizer
As
rugas das sílabas são verbos
A
pele das palavras cicatrizes
Fenecemos
Como
as rosas a florescer
De
ensombradas raízes
E
os espinhos são como nervos
Do
sensível prazer
Directrizes
Que
dita o tempo
E
o viver
É
este amor descontentamento
Desconcerto
De
versos por escrever
Em
silenciamento
Incerto
Solidão
Que
dito em folhas caídas
Tão
perto
O
Outono da paixão
Desperto
Breve
encontro outonal
A
lembrar carícias adormecidas
De
amor tão carnal
E
pergunto sem querer
Às
tuas mãos esquecidas
Saberás
entender
Do
corpo a sabedoria
Sílabas
ao entardecer
Que
tão tarde amanhece
E
adentro desfalece
Tão
só poesia
Ou
as rugas da vida
Em
agonia
Resignação
Palavra
folha perdida
Em
solitário coração
...
Li
poemas e outros textos
Tudo
escrito à mão
A
coberto da noite
Quando
Setembro
Era
promessa
De
poesia
E
sem rasuras
Escrevi
O
silêncio
Que
a noite pesa
Sobre
a escuridão
Senti
O
peso do tempo perdido
A
sofreguidão
Como
num diário
A
um amor desconhecido
Descrevi
O
desalento e a solidão
A
esvair-se memória
Da
íntima pele
Sonâmbula
maré
Sem
chão
Mar
de sombras no olhar
Penumbra
de fé
Sem
ter onde naufragar
A
sua história
De
mel e de fel
Noctívaga
sombra de papel
E
na penumbra escrever
O
que é
Morrer
de prazer
...
Tão
só
Milionária
solitude
Atravessando
países
O
sol e o pó
Dos
tempos
Dos
alegres e dos infelizes
Na
sua ingénua magnitude
Do
caos e dos desalentos
Bolsos
cheios de ternura
Ombros
pesados de saudade
Cansados
da loucura
E
da infelicidade
Do
medo inventado
Submissa
amargura
Inventário
de vírus e ilusão
Do
sonho infectado
De
morte e solidão
Do
cais de pedras e pranto
E
da terra revolvida
De
vulcões despertados
De
perdas e desencanto
Da
estranha vida
E
os cordões desapertados
Arrastando
no caminho
Invencível
destino
Os
sapatos perdidos
Em
dias adormecidos
E
o amor por cumprir
Sem
nunca desistir
...
Salva
a noite da desistência
Sopro
das palavras ao ouvido
Sensível
a existência
Sonho
esquecido
Que
de ousado despertar
Cumpre
a pena insónia
A
doce amónia
A
inebriar
O
descanso perdido
Da
dor inspiração
A
insuportável condição
De
fazer sentido
Escrever
Enquanto
a alma doer
E
o mundo fervilhar
Nas
veias latejar
O
medo formigamento
O
íntimo lamento
A
gotejar
Tinta
em forma de palavras
Prece
ou poema
O
doce cortejar
Da
poesia
Míseras
mágoas
A
serena
Agonia
Da
vida
...
Esse
concluiu estranho
Inebriante
Silêncio
espesso escuro
Do
negro ao castanho
Afiado
e cortante
Pesado
e duro
Húmido
ensanguentado
Peçonhento
Entranhado
Por
dentro
Na
sua feroz tenacidade
De
nudez invisível
A
inviolabilidade
Do
pensar
Indivisível
Multiplicar
Da
emoção
Que
em segredo
Se
faz medo
No
coração
...
Abrindo
dos poros latitude
Da
geografia dos anjos
Cartografadas
as asas
As
horas pesadas
De
noturna leveza
E
longitude
O
suave rumor
E
a delicadeza
Do
voo
Inflorescência
leveza
Do
cardo amor
Completude
Do
sentir
...
Sacramental
virtude
Íntimo
peregrinar
Do
magma acendido
Fogo
a expelir
A
flor
Rubra
incandescência
Acesa
a cor
Como
a ferir
Luminescência
Ilusória
Do
alto da montanha
A
fazer história
Qual
teia de aranha
A
enredar memória
...
Nas
mãos engelhadas
O
afago do tempo
Cântico
glória
Tamisando
de seda o despudor
Cabelo
branco em mechas ardidas
Acinzentadas
Qual
sentimento
Perdendo
a cor
Brilho
e prata
Das
asas cortadas
O
olhar que desata
Em
cordelinhos
Inquestionáveis
caminhos
Da
terna idade
A
ser
Desmerecer
A
eternidade
Ao
morrer
...
Todo
um tempo a suspirar
Os
frágeis instantes
De
corpos fundidos
A
gemer e a arfar
As
lembranças distantes
De
ambos perdidos
Na
pequena morte prazer
De
gozo os sentidos
E
louco o querer
Que
restou
...
O
que o tempo deixou
Vontade
amadurecida
O
suspiro o gemido
O
querer adormecido
Que
esquecer não levou
Do
restante da vida
...
A
espera que marcou
Rumo
ao sentir
Cicatrizando
a ferida
Remendando
a cerzir
A
dor adormecida
O
fundo da saudade
O
beco sem saída
A
profundidade
Medida
Em
dias de espera
De
silêncio empedernido
Angústia
ardente e severa
E
o orgulho ferido
Do
abandono incompreensível
O
silêncio invisível
Desalento
insensível
A
demora
O
regresso imprevisível
O
agora
Sem
nada cobrar
Do
viver a esperar
...
E
cada vez mais sós
...
VERSO
VOO VOZ
Este
poço de inquietação onde caindo
Adormeço
estremecido de loucura
No
fosso da razão se vai abrindo
A
terra como mortalha de tortura
Trinando
desvalido fado menor
Que
desvairado luto se avizinha
O
triste cântico combalido do amor
O
desgraçado que chora a sua sina
Em
quadras de versos desalinhados
Que
a rima destoa a dor trinada
Reversos
de inquietações e tristes fados
Ao
som da viola e da guitarra
Queira
Deus que a voz nunca lhe doa
E
o fado em súplica a gemer
Aos
céus solta a ave que assim voa
Como
a prece a inquietude do olhar
Gemida
a alma a estremecer
Faz
do verso a voz a esvoaçar
...
Amando
...
QUANDO?
Podemos...
tu queres?
Nunca
deixei de querer...
Querendo
ao silêncio a solenidade
Que
invoca súbito o prazer
Em
memória a intimidade
Fazendo
acontecer
A
doida vontade
O
louco tesão
Nunca
deixando
Corpo
Alma
O
Ser
Outro
caminho buscando
A
mais secreta fantasia
Podendo
ou não
Quando?
Fazendo
poesia
Em
excitação escrever
Ou
pintar da húmida paleta
O
que a mão sonha em desejo
A
loucura secreta
Dócil
sombra do último beijo
Corpos
a endoidecer
Ou
o entregue olhar
Como
quem se arrepia
E
tudo pode desculpar
A
dor que inebria
Poder
e querer
Dois
corpos em desprazer
...
Reencontrados
Num
lívido Outono ferido
A
coberto de um rumor
A
terra latejando
O
vento soprando
De
cinzas e dor
Desfasados
no tempo e na vida
Sem
qualquer sentido
O
ilusório sabor
Da
acidez ferida
A
jorrar
Melancólica
poesia
Das
estações a rimar
A
instabilidade temporal
O
vendaval melodia
A
soletrar
Pingos
enevoados de chuva
Dos
céus acinzentados
Onde
acontece
O
Outono
...
musa