Reencontrei-te vésperas do dia
mais longo do ano. A noite ainda era uma criança, a pedir colo ao teu olhar
como se esses teus olhos tivessem braços e um regaço onde aconchegar o carinho
que às vezes, só às vezes, me faz tanta falta.
Já nem me lembrava de como eram
verdes os teus olhos com esse brilho da saudade fechada para alem de todos os
entardeceres somados aos dias longos e aos dias pequenos feitos dessa marcha de
dias festivos em que voltas sempre pelo sentir do prazer, a folia dos santos
populares, o calor do Verão e os nossos corpos ávidos de uma tórrida aventura,
a desmoronar o tempo e o silencio dentro de nós, e ainda todas as metáforas
admitidas na escuridão com que iluminamos beijos em louca lonjura de apertadas
mãos nos sentidos da nossa pele.
Gosto quando perdido do tempo
regressa ao gozo manso desse reencontro sem cobrança de afectos.
E sussurras no meu ouvido que
gostas do meu cheiro e do meu sabor.
E o dia mais longo do ano pareceu
tão pequeno diante da imensidão do teu querer.
O desejo aninhou a distancia
entre os teus braços e demorou se no prolongamento da pluralidade dos orgasmos
humedecendo o teu ventre colado ao meu. Sabes agora que ainda ha vontade a
roçar a noite carnal em penetração de horas húmidas, quentes, viscosas, sobre
um banco das traseiras num beco escuro da madrugada rompida de gemidos
ofegantes e espasmos noctívagos silente respiração de mãos e bocas despudoradas
de afectividade.
Foi bom teres-me feito sentir que
pode haver longos dias, longos instantes, longos sentires, e um tão pequeno
brilho no olhar demorado do orgasmo conseguido na solitude de um beijo.
O calor da noite soltou no
pescoço incendiado de fogo ardente a chama viva da irrequieta vontade de
reviver o que sempre acontece quando nos aproximamos um do outro e a inevitável
sensação de pertencer a esse insustentável dever de roçar lábios sedentos de
beijos carnudos e molhados, abafando gritos de prazer em domínio indomável de
corpos despidos pela tentação.
Sabes todos os pontos erógenos da
evidente sensibilidade em que o toque é o imperador maior da soberania sensual
codificada de todos os trilhos que levam ao encadeamento dessa atracção festiva
da pele reinante do pescoço, nuca, lóbulo da orelha, lábios e língua, mamilos,
nádegas, coxas e dedos, e ainda a penúmbra da intimidade onde chegas em
rebeldia consentida.
Nunca te disse do encantamento
vislumbre gotejante, tumefacto, hirto, teso, carnal, erecto, em chamamento
gritante do eco solto e abafado da boca ou das colinas ou da clareira a pingar
encharcada de excitação e no teu olhar o desespero de quem clama o silenciado
gemido do extase em euforia.
E da mestria do teu dedo em fazer
soltar todos os orgasmos presos no tempo longo da espera, a clitoriana dança da
tempestiva excitação em todos os gerúndios sentidos ou sussurrados ao ouvido
como confissão de provocadores desejos, és mestre a recordar-me a fragilidade
do gozo em mim.
Volta sempre que o dia mais longo
do ano possa ser no meu corpo um segundo mais de prazer infinito.
...
musa
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