GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MUSA RENASCENTISTA



Chegou à recepção do hotel e fez-se anunciar, dizendo que o hóspede do quarto 321 a esperava, firme e confiante como se fora uma habitué desses encontros, aquele desconhecido tinha entrado na sua vida para que ela deixasse registo do tempo que atravessava e fosse ele ventre aconchego da sua alma, miríade descoberta por um acaso, onde o deslumbramento se perdia pelo olhar de duas almas encontradas algures pelo mundo virtual, uma musa e um felino, o humano e o animal, o querer intenso de todos os sentidos despertos para o encontro fatal daquela espera dolorosa, que assim estava prestes a ter um fim. Subiu inconsciente de tudo o que a rodeava, mas consciente de que o seu limite não era somente o seu corpo mas apenas o canal para o vínculo de entendimento e atracção carnal, a meditação exclusiva dessa espiritualidade que se chamava abandono de si mesma, levando-lhe a alma até à outra alma, una e súmula desse estado simbiótico, numa afinidade sem limites, entregando todos os seus sentidos a uma prostituição saudável e merecida, por toda a ascensão piramidal que lhe puxava o íntimo, na realização apoteótica do êxtase místico que impelia corpo e alma a serem segregados um pelo outro. A porta entreaberta fechou-se colada ao seu dorso. Ela foi ao quarto de banho e despiu-se, tomou um duche de água fria despertando toda a sua sensualidade, envolvendo-se num robe de seda preta saiu descalça de luz apagada ao encontro dele. Na escuridão pedida, ocupada de formas e feitios, a penumbra entregava-lhe o ser, avidamente crivada de silêncio, pejada de estrelas míticas, moviam-se mãos que se fechavam uma na outra e se pediam por inteiro, atraídas por fluidos possantes, cheiravam-se cúmplices de afectividade e extenuados pela insistência dos seus sangues emulsionantes, numa ebulição sem margens irreais, sem cortes sangrentos, sem premissas desfeitas, querendo-se na abrupta intensidade do momento perfeito, na saudade delirante dessa paixão nascente. Sentaram-se ao fundo da beira da cama e assim ficaram alguns segundos. Desfeitos os nós das mãos foram desatando laços envoltos no toque dos seus cabelos, como se penetrassem numa selva luxuriante massajavam-se na nuca, tocando o couro cabeludo em pequenos passos cuidadosos para não pisar serpentes escondidas debaixo da folhagem caída pelo chão, percorrendo os dedos pelos traços dos rostos, perscrutando-lhes as saliências, procurando pequenas escarpas onde se agarrarem firmes e com força, para manterem aquele equilíbrio periclitante que lhes feria de vontade mútua, a fome de se devorarem em beijos tão estreitos como gargantas fundas, entre penhascos perdidos de uma imensa cadeia montanhosa de sensações, por cumes e picos inacessíveis, e o poder das suas almas a invadir em perfeição e sem limites o renascimento de um amor sem precedentes, partilhado mente a mente entre duas vidas desencontradas, ambas no auge da paixão por caminhos e idades tão desiguais. A infinita lei do império dos sentidos, quietos os corpos apenas as mentes comunicavam, torturadas e ansiosas à espera que aqueles dois seres as deixassem libertar para a propulsão de todos os fluidos, numa nuvem intensa de desejo mútuo, qual sentença premeditada por um destino que a musa fez acontecer, deixando partir da terra essa outra alma unida de dois corpos entregues, elevando-se acima do encaixe das suas formas penetradas uma na outra, como uma fluência de espírito materializado escoando-se no prazer de múltiplos orgasmos atingidos. Beijos nasceram, escorrendo por declives anatómicos, atravessando diques de sedução, mordiscando aqui e além, foram-se sentindo até despertarem outros interesses, abrasando o íntimo entregue à corrente louca e revoltosa de um rio de erecção mutilante de abstenção, proibido o tacto além da alma, do corpo dela erigiram-se mamilos protuberantes de seios tensos e sofridos, e abrindo-se em flor, oferecia-se solo húmido e cheiros de chuva de desassossego, trazendo-lhe a ele inquietação suficiente para que a desejasse do alto do seu mastro erguido de onde a vigiava entregando-se à deriva no mar bravio da sua ebulição em braçadas ofegantes até chegar a terra firme. Deitou-a para trás, acorrentando-lhe as mãos, livres de algemas mas consentidas dessa prisão, foi-lhe desnudando o corpo com a boca, retirando aqui e além pedaços de passado e tudo o que ela mais trazia de lá de fora, abrindo-a em mil formas de desabrochar com toda a lentidão da natureza, sentindo-a seda, fez dela húmus germinando a sua semente, rio que o levava deixando-se ir, mar que o engolia entre as suas vagas, deserto que o vencia de sede, ninho que o mimava dentro de si. Pedia-lhe o sumo dos seus orgasmos, na plenitude dessa nascente, bebia-lhe o néctar do amor escorrido pelo interior das suas pernas trémulas, e amava-a, deixando-se adormecer vivo no centro desse vulcão convulsivo, rompendo na sua boca o ardor de beijos intensos e sentidos nessa sua vulva lavrada tentava amainar pequena ventania líquida que erguia clamorosa excrescência carnuda e eréctil na sua parte superior dos pequenos lábios molhados de brisa adocicada. Ela levantava-se da cama meio envolta de ondas brancas nesse leito de satisfação usurpada ao castigo do querer e recomeçava tudo de novo, indo ao encontro da boca dele por mera paixão.

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