GRÃO DE MALÍCIA

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Miramar, Norte, Portugal
GRÃO DE MALÍCIA … poemas escritos de desejos e divagações... onde está a poetisa... que vai escrever os poemas memórias de sentidos tidos… onde está a poetisa...que escreve poemas, nua ao pé da cama, que os interrompe para beber inspiração? … sou apenas quem está mesmo por detrás de ti... com a boca colada ao teu ouvido, segredando-te pequenas coisas que tu sentes...de olhos fechados. ana barbara sanantonio

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MUSA RENASCENTISTA



O baile de máscara terminara já o dia amanhecia, vindo rasgar-se em sol sobre o oceano azul, numa exaltação sublime de tactos e cheiros, no freio secreto da madrugada despida pela escuridão gelada, frente a praia da Nazaré.
Tinha sido ali perto do areal, num pequeno largo entre o casario branquinho, podiam ver-se ainda, as guirlandas penduradas, os restos da festa, as latas de bebidas espalhadas pelo chão, as mesas encostadas ao passeio, e o cheiro do carvão apagado. A noite estava quente para a época. O mar pouco agitado, bramia em surdina seu bailado de ondas contra as rochas, como uma deusa deitada em leito nupcial, a praia espelhava-se no céu de luto em toda a sua nudez reflectida nas águas salgadas iluminadas pelo luar envolvente. Bárbara acordou sentindo o cansaço nas pernas, os olhos pesados pelo sono e a boca seca a pedir água, fê-la lembrar que dormira todo o dia, e era agora prisioneira de uma outra noite. Olhou-se ainda enfiada naquela fantasia de mulher aranha, a Lycra colada ao corpo incomodava-a e fazia-a sentir-se presa na sua própria teia. Ao seu lado, do outro lado da barreira de almofadas, Rui dormia também pesadamente, de bruços, ainda fantasiado de Spider, apenas se viam as mãos e os pés nus, e o seu cabelo negro continuava com o brilho molhado da lua, cheirando a mar, os dois tinham acordado entrincheirar-se sobre aquele leito imaculado. Antes de irem para o quarto que a nazarena vestida a rigor com as suas setes saias, lhes alugou à chegada à vila, tinham visitado sorrateiramente o promontório sobre o mar e aí, na falésia, colaram-se de corpos e abraçaram-se felizes por aquele momento. O grupo de nove amigos tinham decidido ir passar o carnaval a Nazaré, espalhando-se dois a dois pelos quartos disponíveis. Já naquela tarde brincaram junto ao mar, na praia molharam a cabeça na água fria salgada, atirando-se água uns aos outros, agredindo o imenso areal com seus risos e gritos estridentes. O quarto ainda estava escuro, pela janela de portadas venezianas, infiltrava-se um fio de luz evaporado da iluminação pública da rua, sombreando os corpos esgotados sobre o leito. Bárbara olhou para o amigo e sentiu um fogo involuntário a consumi-la por dentro, pegou numa almofada e abraçou-a entre as suas pernas, apertando-a tentando acalmar-se, desviou o olhar do corpo masculino com quem partilhava a cama e tentou de novo adormecer. Mas ele continuava lá. Levantou os olhos e começou a imaginar aquele dorso imóbil, desde a curva do seu pescoço até aos seus calcanhares afastados, visíveis pela luz ténue da escuridão. A vontade louca cresceu em todo o seu corpo. Bárbara tirou as almofadas devagar, deixando livre o espaço proibido, entre os dois, e encostando-se silenciosamente, deitou-se ao seu lado quieta, absorvendo o cheiro do homem misturado com a maresia, sentiu o seu calor e a sua respiração sobre o lençol, e com a sua mão tacteou os negros cabelos desalinhados, ainda salinizados e frios. Rui moveu-se e virou-se de costas para ela, inocente a todo aquele pulsar, sentiu o roçar da mulher aranha, completamente entregue ao profundo cansaço do sono, recebeu o calor feminino aproximando-se de si, enlaçando-o, encaixando-o, recebeu a coxa que se entranhava no meio das suas pernas, por detrás, e o rosto macio e quente de encontro as suas costas, em contracções, tumescências, humidades, invasão de desejos sentidos. Acorda do sonho e vira-se para ela, incrédulo, surpreendido mas feliz. Abraça-a e beija-a na testa, sem dizerem uma palavra, apertam-se fortemente, recordando o abraço sobre a falésia frente aquela imensidão de mar, tacteiam os seus rostos no escuro incendiando-se de paixão e sedução. Começam a beijar-se, a terem-se de beijos molhados em pequenos toques, mordem-se, provocam-se, olham-se olhos nos olhos e dizem sim, famintos, tomados de tesão, Bárbara deita-se sobre ele, pélvis com pélvis, sem se movimentarem, ele beija-a demoradamente, mordiscando-a, ela lambe-lhe o rosto felinamente bem devagar, percorre-lhe o pescoço, procurando-lhe o lóbulo, trinca-o humedecendo-o, respira profundamente na sua orelha, roça o seu rosto de barba por fazer, dando-se conta de como o seu sexo cresce debaixo de si, apertado naquele fato de fantasia carnavalesca, ávido por se libertar, vai sentindo a sua flor de lótus se abrindo orvalhada, contraindo-se gemendo faminta, deixa escorregar a sua mão de encontro à haste erguida, talo possante túrgido, dominados de tremor, rendidos aos espasmos eloquentes de tensão, libertam-se das fantasias e colam-se pele com pele, numa explosão vulcânica de sentidos em magma escaldante, escorrendo das suas entranhas líquidos doces e perfumados em ânsia de ser. Rui explora cada centímetro do corpo de Bárbara, o calor aumenta-lhes a respiração, agitam-se numa viagem de mãos por todo lado, ele procurar-lhe os seios e provoca-os com a humidade da sua língua em movimentos circulares, funde-se neles louco extasiado, e entre os dois gera-se uma batalha de fúria entre o racional e o insano, o desejo e a loucura, a vontade carnal de um pedaço do outro nascida no braseiro incendiário do prazer entre o diálogo corporal e a noite. Bárbara vulnerável, com o seu corpo inerte sobre a cama, a sua entrada vagarosa completamente rendida inebriada aos beijos e carícias de Rui, explode túmida, intensa, num arrepio lento vibrante, deixa-se escorregar na escarpa língual de encontro ao auge da evolução gradual daquele sentir inimaginável. A noite parte a galope até se terem esgotado sobre a pradaria das suas vontades, e os dois separam-se extasiados pela descoberta de tão nobre querer em meigos sorrisos partilhados pelo imenso e louco prazer.

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